
Pedro Bello, fumando um dos charutos que fabrica. Uma lenda na Calle Ocho. Photo credit: Ivan Gonzalez via Flickr
Impossível não sentir a influência da cultura latina, principalmente cubana, em Miami. Presente no idioma mais falado na cidade, na arquitetura, na política, nas artes e no comportamento na sociedade local. Apesar das diferenças entre a vida de um cubano em seu país e dos que se exilaram na cidade desde a revolução de 1959 liderada por Fidel Castro, as tradições se mantiveram presente na vida e nos corações daqueles que tiveram que abandonar a sua pátria.
Com a aproximação diplomática entre Estados Unidos e Cuba após mais de cinquenta anos de embargo econômico, muita mudança está por vir. Enquanto isso, que tal vivenciar por um dia um pouco do “sentir cubano”, através da história, cultura e culinária enquanto de passagem por Miami? Um tour de imersão começando pela manhã, passando pelo bairro Little Havana e terminando com um jantar em South Beach.
A esquerda, Freedom Tower. O contraste do passado com o futuro. Photo credit: Ed Webster via Flickr
Manhã com
Cafecito e Freedom Tower
Cubanos
adotaram o breakfast americano, com muito ovo, bacon, torradas e até bife de contra-filé! E claro, acompanhado com um cortado (espresso cubano já adoçado com um pouco de
leite e espuma) ou uma “bacia” de café com leite. Já para um desayuno para llevar (café da manhã para levar), um cafecito com uma croqueta de jamón (croquete de presunto) ou um pastel de guayaba (os “pasteles” são de massa folhada um pouco mais pesada que pode ser recheado com doce de goiaba, goiaba com queijo, coco, ou
salgado, com queijo e presunto ou carne moída). Tudo mais rápido servido nas ventanitas (janelinhas de
serviço).
Em Miami
Beach, café da manhã tipo cubano no David’s Cafe, em Downtown Miami no Tinta Y Cafe, ou em qualquer cafeteria, restaurante (e até dentro de supermercados) na Calle Ocho.
O Freedom
Tower, que é um museu operado pelo Miami Dade College e é parte do patrimônio
historico nacional, não só por ter sido construído em 1926 com arquitetura
colonial espanhola, imitando a Catedral de Sevilla, mas também porque foi neste
prédio onde o governo americano recepcionou os cubanos fugindo do
regime comunista, de 1962 até 1974 para serem repatriados durante a Guerra
Fria. O museu contém um acervo histórico permanente sobre este tempo e também
outras exibições de arte rotativas.
A janelinha de serviço do restaurante Versailles. Photo credit: Flavia Caldas
Almoço no Versailles
Famoso não
só pela pela comida autêntica mas também por ser visitado frequentemente por
políticos e chefes de Estado, o restaurante Versailles é um ponto de refêrencia sobre a
política local e a de Cuba. Um lugar onde é comum ver protestos políticos e por
membros da comunidade que querem ser ouvidos; em meio a turistas, residentes
apolíticos e clientes famintos pela comida saborosa e acessível. Destaque para
a ropa vieja (carne de panela com molho a base de cebola, tomate e pimentão), acompanhada
por feijão preto, arroz branco e maduros (banana frita). E se possível, deixe
espaço para experimentar os doces feitos na Versailles Bakery ao lado do
restaurante principal. Com um cafecito, é claro.
Um prato estilo “sampler” cubano do restaurante Versailles. Photo credit: Eugene Kim via Flickr
Passeio na
Calle Ocho pela tarde
O corredor
principal do bairro – a Calle Ocho – onde milhares de pessoas circulam a pé ou de carro para se
locomoverem entre o lado oeste de Miami e o lado Leste, indo em direção a
Downtown Miami, Brickell e Miami Beach. O bairro hoje conhecido como Little
Havana foi no começo do século passado um enclave de americanos que vieram dos estados frios do Midwest, de judeus vindo da Romênia e de caribenhos até o começo da década de 60, antes de ser povoado pelos
exilados cubanos. Depois de 1980, então com uma população com mais de 80% e nova geração de cubanos-americanos, o bairro então passou a ser conhecido como Little Havana. E o Domino Park –
onde a velha guarda cubana se encontra até hoje todos os dias para jogar dominó
– virou não so um parque oficial da cidade de Miami como parte do registro
de lugares históricos no estado da Florida, em 1976. Foi o primeiro ponto de encontro
dos exilados, não só para jogar mas também para trocar informações
sobre família e política. Pela manhã até o entardecer, este é o lugar na Calle
Ocho mais visitado e possivelmente, o mais fotografado.
O marco da história do exílio. Bay of Pigs Memorial. Photo credit: Phillip Pessar via Flickr
Hoje, o bairro é mais um melting pot latino, principalmente dos países da América Central como Nicaragua, Honduras, El Salvador e os outros com grandes números de imigrantes como Venezuela e Colômbia. A maioria das lojas são operadas por famílias, que perderam tudo em seus países de origem e viram na América, a chance de recomeçar. As áreas mais visitadas de Little Havana são da SW 17th Avenue na Calle Ocho indo em direção a SW 13th Avenue, onde fica um dos marcos mais importantes sobre a história dos cubanos em Miami: o Bay of Pigs Memorial, sobre a invasão de Cuba por soldados cubanos treinados pelos Estados Unidos na Baía dos Porcos em 1961, com o intuito de remover Fidel Castro do poder. Uma série de monumentos sobre a luta pela liberdade em Cuba e aqueles que fizeram parte são encontrados no boulevard na SW 13th Avenue.
A arte cubana na galeria e centro cultural CubaOcho. Photo Credit: Jared via Flickr
Calle Ocho. Photo credit: Phillip Pessar via Flickr
Mojitos! Photo Credit: Ines Hegedus-Garcia via Flickr
Happy Hour – Hora do Mojito
No final da
tarde, após visitar as charutarias, as lojas de artesanato as galerias de arte,
a melhor pedida é experimentar um refrescante Mojito. Presença obrigatória nos
menus de coquetéis em Miami, o mojito (rum, limão, açúcar demerara e folhas de
menta) ganhou fama internacional por ser o favorito coquetel de um americano
ilustre residente em Cuba nos áureos tempos da bonança: o escritor e ganhador
no Nobel de Literatura, Ernest Hemingway. Recomendamos o Ball & Chain e a galeria de arte/lounge CubaOcho em Little Havana, na Calle Ocho.
A comida
cubana mais autêntica se encontra nas redondezas e dentro de Little Havana. Mas se um jantar em
South Beach é o seu destino final, então uma boa opção é Lario’s On The Beach.
O restaurante foi arrendado pela cantora Gloria Estefan e seu marido Emílio, e
oferece os clássicos da culinária cubana com um um pouco mais de ênfase nos frutos do mar.
Não se espante se você se deparar com os Estefans, que são presença constante
na cidade, e muito queridos pelos seus trabalhos em caridade e em preservação
da história e cultura de Miami. E quem for mesmo fã da Gloria e sua carreira, nós recomendamos se hospedar no Cardozo Hotel, na Ocean Drive. Um pouco de auto-promoção da cantora – suas músicas estão presentes desde o check-in até nas suítes – o hotel é pequeno mas aconchegante, e fica centralizado no distrito Art Deco na Ocean Drive.
Jantar
cubano na Ocean Drive cortesia da Gloria Estefan
Bonus: Chegando
mais próximo de Cuba
Depois de
um dia inteiro em Miami fazendo total imersão na cultura cubana, vale a pena
dar uma esticada até Key West (quatro horas de carro a partir de Miami). A ilha
fica no extremo sul da área continental dos Estados Unidos e muito visitada por
turistas. Beirando o kitsch, mas ainda assim, charmosa e cheia de curiosidades. Foi em Key West o porto de entrada de cento
e vinte e cinco mil refugiados cubanos em 1980, conhecido como Mariel
boat lifts (ou Êxodo Mariel). E alguns por ali ficaram, estabelecendo residência. E muitos naquela
época sonhando em poder voltar para a sua terra. Não deixe de visitar o Southernmost Point, uma “bóia” que marca a distância entre os dois países, aproximadamente 300 quilômetros. Passe a noite no Southernmost Hotel, que fica a uma quadra do monumento e de várias atrações e restaurantes em Key West. E não deixe de visitar a residência do autor Ernest Hemingway antes dele ir para Cuba, que agora virou um museu e abriga os famosos gatos de seis dedos.
Deste ponto em Key West até Cuba são 300 kilometros. Photo credit: Mercedea via Flickr
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